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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

menina dos olhos de jabuticaba.


Tinha olhos nebulosos e um sorriso na boca. Um sorriso meio manchado e travesso, desses de menina boba e inocente. Na mão um copo de café e nas costas uma mochila. Um cabelo bagunçado de quem acordou atrasada e rosto de anjo que acabou de cair na terra.
Era simples e leve, como se fosse sair flutuando a qualquer momento.
Da uma dor no peito saber que um dia aqueles olhos escuros poderão chorar um oceano inteiro de incertezas, medos, angústias e sentimentos. Que aquele sorriso manchado poderá se transformar em cacos junto ao coração. Que aqueles cabelos irão acordar amarrotados, depois de uma daquelas noites de revirar e revirar sem conseguir dormir.
Queira Deus que isso não aconteça. Que aqueles sonhos de menina inocente nunca sejam pisoteados, que a música nunca pare de tocar e se parar, que haja uma força imensa que nunca deixe falhar a vontade de apertar o play mais uma vez.


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She's got a smile that it seems to me
Reminds me of childhood memories
Where everything was as fresh as the bright blue sky (Guns N' Roses)
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sexta-feira, 7 de outubro de 2011

setembro.



E se todos os meses fossem como setembro? Gélidos e pálidos como setembro.
O céu seria cinza em todos os dias, eles passariam lenta e dolorosamente, se arrastando pela calmaria de uma imensidão tão vazia como pote de doce em casas que tem crianças.
Aquele eco de setembro que, queria eu, fosse possível excluir da memória.
As manhãs frias, aqui na ponta do mapa, as tardes abafadas e as noites... Ah, as noites.
Traidoras sejam elas. Trazem consigo os pesadelos, junto à um setembro pavoroso e calado. Um setembro amargurado e, talvez sem motivo ou talvez com muitos, por opção solitário.
Se todos fossem como setembro eu me encaixaria perfeitamente na brecha entre o solitário e o calado.
Talvez seja só tentar mudar as escolhas para que os outros não sejam como setembro foi. Mas eu não faço tanta questão de que os outros sejam melhores, talvez eu até tenha gostado desse setembro sem graça.

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Não vou dizer que tudo é banalidade
Ainda há surpresas mas eu sempre quero mais
É mesmo exagero ou vaidade
Eu não te dou sossego, eu não me deixo em paz (ana carolina - confesso)
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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

continuando.



Meus dedos tocam a xícara de café quente, tão quente que tenho que dar aquela inútil sopradinha antes de beber o próximo gole. Os pés gelados no piso não me incomodam, gosto dessa sensação de estar descalça. Os livros em cima da mesa indicam uma frustrada tentativa de estudo.
Eu sei a ordem em que os talheres devem ser guardados na gaveta e sei também o lugar certo dos copos, das xícaras e dos pratos. Sei porque fui eu quem organizou, tudo sozinha, ouvindo minhas músicas preferidas e na solidão que eu adoro.
Me pergunto se estas como eu. Se tua vida seguiu, se as coisas continuam como eram ou se mudaram o suficiente para dizeres que és feliz.
A xícara está vazia e eu me levanto, sem a menor das vontades, para me servir novamente. Me debruço sobre a janela e observo o trânsito. Toda a agitação da "cidade grande" as vezes é incômoda para quem fora criado numa cidade pequena como a minha. Isso também me lembra de você, não sei se é o momento, esse em que todas as coisas se transformam em você, ou se realmente esse barulho infernal e essa bagunça se parecem contigo.
O gato que está miando e se entrelaçando em minhas pernas não é meu, aliás eu continuo com apenas um animal de estimação, uma hamster - uma, porque é fêmea - mas não a mesma de anos atrás, aliás esta já é a terceira, esse gato é do vizinho, mas como o vizinho foi muito querido comigo nos meus primeiros meses por aqui e não é incômodo algum para mim, tomo conta do bichinho quando ele vai visitar os pais. Félix, esse é o nome do gato, me faz companhia e me lembra de que estar o tempo todo sozinha não tem sido muito saudável. Ele só quer um pouco de leite e comida.
A xícara já está em cima da pia, perdi a vontade do café. Eu estou observando o gato tomar seu leite e comer essa coisa estranha e nojenta que é comida para gato enlatada, quando a campainha toca.
Não, não é o dono do gato, eu sei quem é. Eu o esperava.
Como eu disse, ficar sozinha o tempo todo tem me feito mal ultimamente e ele se importa com isso, por isso está aqui. Talvez seja por esse motivo que as coisas me trouxeram uma lembrança distante de você, porque você é extremamente o oposto dele. 
E, sinceramente, me sinto muito mais aconchegada e protegida nos braços dele.

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The rain is falling on my window pane
but we are hiding in a safer place
under covers staying dry and warm
you give me feelings that I adore (colbie caillat)
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segunda-feira, 6 de junho de 2011

despedida.


E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perda da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação. Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.

E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?
Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil.
Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus.

A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.

               |Extraído de: Rubem Braga “A Traição das Elegantes”
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quinta-feira, 5 de maio de 2011

embaralhar.

E agora, perdida entre tempo e espaço eu procuro pelos seus olhos. Procuro saber se olham somente para mim ou se tem algum outro ponto de paz. Tento não me perder na infinidade de sentimentos, bagunçados e embaralhados, dentro de mim. Tento me segurar no corrimão da escada para não cair no próximo degrau. Tento me apoiar a pilares imaginários para não desmoronar ao me levantar da cama pela manhã. Procuro ser o mais forte e estável possível durante o dia, para não deixar meus medos e inseguranças afetarem outras pessoas. Tento me manter afastada da mesmice, do completo e do ilusório. Procuro andar sempre perto da margem do rio, para não me perder nessa infinidade de estradas e encruzilhadas que a vida reservou.
E quanto mais eu me importo com os mínimos detalhes é nas coisas mais simples que eu erro.

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Tell me why
When I scream there's no reply
When I reach out there's nothing to find
When I sleep I break down and cry (roxette)
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segunda-feira, 11 de abril de 2011

302

Senti saudade.
Saudade das manhãs insanas que passava ao lado de vocês.
Saudade dos abraços verdadeiros, das palavras amigas e até das colas durante a prova.
Senti saudade dos suspiros e das risadas, dos intervalos com todos reunidos.
Senti saudade das tristezas e das muitas gargalhadas.
Senti saudade do teatro, do casamento caipira e até das apresentações de trabalhos.
Sinto saudade de cada imperfeição que tinhamos, de cada xingão que levamos.
Nós fomos unidos, e acredito que ainda somos, de uma maneira diferente, mas somos. E é nessas horas que você percebe que tem coração igual de mãe, porque cabem todos vocês aqui dentro. Quem saiba esse seja somente um desencontro, para que futuramente nosso encontro seja mais doce, com o gosto especial que a saudade nos deixa.
Não é assim tão complicado entender, foi o melhor ano de escola que eu tive, aquele que não tem como dizer que não valeu a pena, aproveitamos ao máximo, fizemos e desfizemos as traquinagens mais absurdas.
Mas sabe o que mais me da saudade, nossa incontestável e incomparável união.
Eu amo cada pedacinho de vocês e tenho cada um de vocês junto a mim, dentro do meu coração.

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E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar
Não tem tempo nem piedade nem tem hora de chegar
Sem pedir licença muda nossa vida,
E depois convida a rir ou chorar
Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela
De uma aquarela que um dia enfim descolorirá (aquarela - toquinho)
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sábado, 2 de abril de 2011

acordando.


Ficou nas entrelinhas das frases mal ditas, dos textos inacabados.
Ficou perdido pelo espaço, no meio das constelações, desceu pelo ralo do buraco negro.
Ficou na memória, no lugar mais lindo e mais quente dela, num lugar reservado a ti.
Ficou no jardim junto as flores, junto a grama.
Ficou perdido, por ai.. vagando sem destino.
Ficou sem saída, sem sentido.
Ficou sem ela, e sem ele.
Ficou sem razão.
Ficou sem, ficou só.


Buscou e nada encontrou, vasculhou um pouco mais e ao abrir a caixa exclamou: -Ah! Ai está você. Pegou-o delicadamente com os dedos e colocou no colo, como se ninasse uma criança. Não fazia sentido, ela sabia. Mas a última coisa que seu coração precisava era de lucidez, já havia vivido demais sem sentir o gosto do mal feito, do inacabado.
Era ele, aquele que nunca abandonou a criança incompleta que fora, o bom e velho teddy, aquele que fora seu companheiro em todas as aventuras de menina, de descobridora. Em todas as buscas por respostas aos mistérios inventados, descobertos e redescobertos, centenas e milhares de vezes.
Lembrou então que havia mais, mais pra ser, mais pra se fazer.. do que chorar pelos cantos por alguém, alguém que feriu e magoou aquilo que teddy sempre cuidara tão bem. Lembrou de teddy e de todas os momentos em que ele fora seu melhor e por vezes único amigo, único ouvinte. E por incrível que pareça seus conselhos eram os melhores.
 Descobriu ela então que havia muito mais da vida para ser desvendado, muito ainda para ser explorado.
Ficou sem reação quando por fim percebeu que era disso que gostava, da aventura. Botou teddy dentro da mochila, botou a mochila nas costas e saiu.. sem rumo, sem destino ou parada. Me desculpem os desentendidos, os medrosos e os pobres de espírito... ela foi ser feliz!

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I'll still be thinking of you
And the times we had...baby (don't cry - gnr)
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quinta-feira, 31 de março de 2011

começo

O começo sempre parece ser bom. O começo de uma bala é melhor do que o final, quando ela se acaba. O começo de uma paixão é melhor do que a dor que ela trás quando termina.
Espero que não só o começo desse blog seja bom, como está sendo, espero que cada dia que passe e cada palavra aqui escrita valham a pena, e que sejam tão bons e prazerosos, quanto está sendo agora escrever pela primeira vez aqui, o abrigo das minhas confusões.
 

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